UM FANTASMA E UM AMOR LOUCO EM PARIS



Depois de me matar de comer croissant de nutella no café da manhã do hotel, meu dia começou passando pela Torre Eiffel e parando às margens do Rio Sena, para andar de barquinho. Tenho uma fixação por rios, e sempre que a cidade tem um rio navegável eu gosto de fazer esse passeio. Um sonho meu: que alguém despolua o Tietê em SP, um dia haha.


O passeio foi pela empresa Bateaux-Mouches, não sei se é a melhor, mas é bem conhecida, e custou 13 euros. Eles também fazem jantares a bordo do barco, e deve ser bem legal, mas é muito caro, algo em torno de 148 euros. Só recomendo se esse for o seu sonho ou se for uma ocasião muito especial, se você estiver comemorando Bodas de Carvalho, por exemplo.Mas será que é possível completar 75 anos de casado? hahaha.



Ao fim do passeio, uma paradinha para almoçar. Não vou conseguir lembrar em que restaurante fomos, porque era um bem pequenininho, bem familiar, perto da Torre. Mas eu gostaria de achá-lo novamente, pois foi o melhor espaguete da minha vida. Quem já leu meu post de Praga, sabe que eu vivo na busca eterna pelo macarrão perfeito. Esse ainda não foi, mas chegou muito perto, nota 9,5. 


Ponto negativo: ninguém falava inglês, e fomos atendidas pela própria dona, que não era a pessoa mais simpática do mundo, mas se esforçou para entender o que a gente estava pedindo. Fomos de macarrão a bolonhesa, acompanhado de um pãozinho delícia com um patê que lembrava o gosto do wasabi. Sei lá, tava tudo muito bom. Pena que não tirei foto, perdões gente. 

Minha mãe queria visitar as Catacumbas de Paris que é um ossuário subterrâneo, num sistema de 400 quilômetros de cavernas e túneis, de explorações de pedreiras, desde a ocupação romana. Historinha: Em 1780 os cemitérios estavam começando a ficar extremamente lotados, e o principal cemitério da cidade estava tão cheio, a ponto de começar a contaminar e adoecer as pessoas que moravam perto. Louco né? 

Então pensaram em usar esses túneis abandonados para depositar as ossadas, formando paredes cheias de ossos e crânios de mais de cinco milhões de pessoas. O detalhe era que as Catacumbas não abriam de segunda-feira. E que dia era? Segunda. Não deu para visitar, mas fica para próxima.Vejam que doido: http://www.catacombes.paris.fr/


Já que o rolê ia ser meio macabro, foi ótimo quando no meio do caminho, tinha um cemitério. O cemitério de Montparnasse, para ser mais exata. Minha mãe já tinha pesquisado sobre esse cemitério e sabia que haviam figuras ilustres enterradas por lá. Para ser mais exata de novo: Sartre, Simone de Beauvoir, Baudelaire, Durkheim, entre outros. Ah, porque não dar uma paradinha?


E aí que tá, minha história macabra de conversar com um fantasma por lá. Eu fui à busca de achar o túmulo do sociólogo Durkheim, porque me formei em Ciências Sociais, e pô, ouvi falar muito desse cara por quatro anos de faculdade. Minha mãe foi para um lado achar os restos mortais do Sartre e eu fui para o outro lado. 


Perdida por entre as lápides, naquela manhã fria, cercada por corvos e flores murchas (criando um filminho na sua mente haha), apareceu um cara do nada e me fez a seguinte pergunta: 

-Você está procurando o túmulo do Durkheim? 

Espanto! Como ele sabia o que eu estava procurando???? Eu respondi que sim. Ele falou que sabia onde era, porque ele morava ali. What the fuck? Oi? Morava ali? Ele ainda acrescentou que ficava no cemitério todos os dias, o tempo todo. 

- Every Day, all the time. 

Que medoooo! Mesmo achando tudo estranho, segui ele em silêncio. Ele apontou o túmulo para mim, e no segundo que virei para agradecer, ele havia sumido. Poderia ser um maluco aficionado por cemitérios? Poderia. Mas sei lá, foi muito doido, e para mim ele sempre será o fantasma que mora no cemitério de Montparnasse. Vocês acreditam em mim? Quem aí também usa fantasmas como GPS em cemitérios? hahaha.

      

Depois dessa conversa com um espírito, corri para achar minha mãe no túmulo do Sartre e da Simone de Beauvoir. Eu amo a história desses dois e por isso vou contá-la rapidinho: Se conheceram na Universidade de Sorbonne. Duas mentes brilhantes e loucas. Ele era um rebelde, daqueles que causam, do tipo que desfila como mulher e vai nu a um baile. Ela tinha casos com homens e mulheres e bebia demais. Logo nos primeiros encontros ele alertou: “Nunca serei fiel a uma mulher, nem quero que ela seja comigo. Isto para mim não tem a menor importância. Essa é a primeira condição que imponho para quem deseja viver comigo.” Ela aceitou, e depois, mesmo com essa premissa, Sartre chegou a propor casamento, mas ela recusou. 


Fizeram um pacto de se amarem, mas terem um relacionamento aberto. Sartre era sensual? Não, ele não era. Mas era um imã para as mulheres que o adoravam por sua mente brilhante, e logo teve um caso mais sério com a americana Dolores Vanetti, a única pela qual Simone teve medo de perdê-lo, tanto que, Sartre veio a assumir depois que amava Dolores, mas apenas com Simone ele podia ser ele mesmo. Simone começou a se relacionar também com Nelson Algren, um escritor. Mesmo assim sempre trocavam cartas e davam suas escapadas para se encontrarem. 

Ele morreu em 1980, e ela passou a última noite ao lado do corpo dele no hospital, e disse: “Sua morte nos separa, minha morte não nos reunirá". E em 1986, morre Simone de Beauvoir. Entendeu porque eu acho demais essa história de amor e liberdade? E reparem:

Um monte de marcas de batom, das mulheres que beijam a lápide.

      

Parada para comer um suspiro gigante do tamanho da minha cara, que achamos no caminho. 


Depois andamos um montão de volta para "casa" e ainda paramos em mil lojinhas para tentar comprar uma boina que coubesse na cabeça do meu pai hahaha. A noite rolou comer um hamburgão com muita mostarda Dijon, minha favorita dentre todas as mostardas que habitam a terra! 

      

No próximo post conto sobre a Notre Dame, aquela igreja cheia das gárgulas louca, e os 400 degraus para subir ao topo e que quase me tiraram a vida. Bisooous <3

Nenhum comentário:

Postar um comentário