VIAJAR SOZINHA, EIKE LOUCURA?

Meus amores, sempre que me perguntam com quem eu viajo e eu respondo que, normalmente, sozinha, todo mundo fala "Você é louca" e na sequência surgem sempre os mesmos comentários do tipo:

-Ai, mas é tão triste viajar sozinha.

-É muito perigoso!

- Se você morrer, quem vai avisar sua familia?

Vamos lá. Nunca me considerei uma pessoa muito independente. Sou filha única, e normalmente sempre fui meio que podada a não me aventurar além da minha zona de conforto. Então sempre acabava preferindo fazer as coisas acompanhadas. A questão surgiu quando eu decidi fazer meu primeiro mochilão, começando pela Oktoberfest de Munique e ninguém do meu círculo de amigos estava disponível. Tinham aqueles que não queriam parar suas vidas para juntar dinheiro e aqueles que não poderiam viajar na época que eu queria. Aí ou eu ficava em casa chupando o dedo, ou eu metia a cara.

Vou dividir uma coisinha com vocês. No dia anterior dessa viagem, eu estava no shopping e muito nóia que eu sou, fui tentar descer uma escada rolante que (detalhe) era a escada que estava subindo. Como e porque eu fiz isso, não sei. Só sei que eu caí hahaha. E nesse momento, lembro bem que meus pais falaram: “Como você vai viajar sozinha, se não sabe nem andar em uma escada rolante?” hahaha. Naquele momento eu percebi que não ia só provar para eles, mas para mim mesma, que seria capaz.

Na verdade, enquanto eu planejava a viagem eu não pensei em nada, em nenhuma das questões lá de cima. Meu único medo era ser barrada na imigração, e só. No dia, meu pai me deixou na rodoviária para pegar o ônibus para o aeroporto. Quando eu entrei no ônibus, eu chorei, confesso. Bem aquela cena de filme, acenando e chorando hahaha. Bateu aquela sensação de “E agora, José?”, e todas aquelas dúvidas me vieram na cabeça. 

Cheguei ao Aeroporto de Guarulhos com muita antecedência, e sentei no On the Rocks Pub, um restaurante/pub muito legal, e lá tinha um cara tocando a minha música preferida na gaita: a música do Titanic hahaha (sim, não me julguem). De repente, o fato de estar ali, naquele momento, me deu uma sensação de tranquilidade e alegria por tudo o que estava por vir, e eu senti que era um sinal, não de que o barco ia afundar (rá), mas de que tudo ocorreria bem. Sempre que vou ao Aeroporto de Guarulhos, agora virou tradição, eu me sentar lá pra beber ou comer alguma coisa, porque acho que me dá sorte e é perfeito para passar o tempo. 

Claro que tem momentos que você vê alguma coisa durante a viagem e gostaria muito de dividir, de conversar com alguém. Mas quase nunca estive o tempo todo sozinha, de fato. Sempre acabei por fazer alguma amizade. Nunca fui um modelo de sociabilidade e simpatia, mas a gente sempre acaba por fazer novos amigos, e quão agradável foi as histórias e as pessoas que pude conhecer.

Mas é perigoso? Posso ser louca, mas realmente não vejo perigo em estar sozinha, afinal você deve ter os mesmos cuidados que teria se estivesse acompanhada. 

Se você é mulher, seus amigos e familiares vão te colocar mais medo ainda. Você pode ser assediada? Claro! Em um só dia fui assediada por três indianos em Barcelona e olha que eu não sou nada sensual hahaha. Pra esses casos com um pouco de jogo de cintura você acaba contornando, normal. O cuidado deve ser o mesmo para homens ou mulheres.

Você vai gastar mais estando sozinho? Pode ser que sim. Na teoria você não terá ninguém para dividir um táxi ou uma refeição por exemplo. Na teoria. Eu acabei arranjando gente para dividir táxi e muitas vezes tive com quem dividir a conta. E se por acaso isso não rolar com você, não use isso como um empecilho, basta você estar ciente do quanto pode gastar, e seguir minhas dicas de mão de vaca. 

Aí entra outro ponto que as pessoas costumam sempre me falar: almoçar e jantar sozinho é chato. Não se você tiver um livro ou celular, para se distrair. E você também vai perceber que no mesmo restaurante terão outras pessoas sozinhas, e você não vai ser o único estranho do rolê. Como eu falei lá em cima, muitas vezes eu estive acompanhada, como por exemplo, em Lisboa, que fiz uma amiga americana no hostel que jantou comigo todas as noites. E essa é minha próxima dica: se você se hospedar em hostel (albergue) suas chances de ficar sozinho são mínimas. Além dos passeios que eles oferecem durante o dia, costumam combinar saídas a noite e você pode ir com a galera. Por isso, opte por hostel, sem dúvida, se for viajar sozinho. 

Não falo outra língua. E agora? Calma! A não ser que você não fale e nem entenda ABSOLUTAMENTE nada, isso pode ser um problema. Ou as vezes não, porque já ouvi relatos de gente que foi com a cara e a coragem sem falar nadica de nada. Mas se você tem um inglês básico, keep calm, você vai se virar. 

Se eu não te convenci e você ainda tem muito medo, então vá com excursões ou pacotes. Minha mãe viajou para Roma, Egito, Jordânia e Israel com um grupo que ela nem conhecia, organizado pela internet, e também se divertiu muito. Quando estiver mais soltinho, você se arrisca. O importante é não colocar limitações, se você quer realmente viajar. E por favor, pare de ficar dependendo dos outros para realizar esse sonho, porque enquanto você dá bobeira, a vida passa, e logo você vira uma uva passa recalcada(que trocadilho show, hã?! Haha).

Na boa, viajar sozinho vai mudar sua vida. Você vai ganhar mais confiança e acreditar mais em si mesmo, quando passar por certos perrengues e conseguir se virar. Já ouvi dizer que quem não gosta de ficar sozinho, é porque tem medo de conhecer a si mesmo. Então, se permita! Você vai ganhar uma experiência única de vida e vai se auto-conhecer a cada minuto da sua viagem. Sei lá, mete a cara e se joga!